Parque Ecológico Imigrantes

Shinnenkai – Fundação Kunito Miyasaka

1) em pé: Osamu Matsuo – Presidente do Conselho Diretor da FKM, Keizo Uehara – Superintendente Geral e Antonio Rosa Neto – Presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Léo Ota – Membro do Comitê Executivo do Parque Ecológico Imigrantes, Bruno Casagrande e Manuel Carlos Reis Martins – representantes da Fundação Vanzolini, Helio Oda – Membro do Comitê Executivo do Parque Ecológico Imigrantes, Roberto Yoshihiro Nishio -Vice-Presidente da FKM. abaixados: Ricardo Pimentel Maluf, Marcio Koiti Takiguchi e Flavio Lessa da Fonseca – Membros do Comitê Executivo do Parque Ecológico Imigrantes.

A Cerimônia de Comemoração do Ano Novo – Shinnenkai – da Fundação Kunito Miyasaka foi realizada no dia 20 de janeiro, e estiveram presentes o presidente da entidade, membros da diretoria, o comitê executivo do Parque Ecológico Imigrantes, e mais três convidados, os senhores: José Joaquim Ferreira do Amaral – vice-presidente da Fundação Vanzolini –, Manuel Carlos Reis Martins – coordenador executivo – e Bruno Casagrande – responsável pelo desenvolvimento de negócios – ambos do Processo AQUA – Alta Qualidade Ambiental, também da Vanzolini.Neste encontro foi entregue o Certificado AQUA – fase Programa – ao Parque Ecológico Imigrantes, que é o primeiro parque certificado no Brasil. Para que possamos entender melhor em que consiste a alta qualidade ambiental em construções e a representatividade do Parque em âmbito nacional, conversamos com o Professor Martins, que vem acompanhando o empreendimento desde a concepção do projeto arquitetônico e inclusive foi o auditor da fase programa.

Professor Martins, quem é a Fundação Vanzolini e, o que é a Certificação AQUA?
A Vanzolini é uma fundação que se dedica ao desenvolvimento da engenharia de produção e da administração industrial formada pelos professores do Departamento de engenharia de Procução da Escola Politécnica da USP em 1967, e vem desde então desenvolvendo essa missão por meio de projetos, workshops, cursos de pós graduação, assessoria, enfim, numa série de atividades sempre nas suas áreas de excelência.

A Fundação também é uma entidade de certificação de sistemas de gestão e produtos na área da construção civil, onde atua já há mais de 15 anos e é a maior certificadora do Brasil. Quanto a Certificação AQUA nós acabamos encontrando no modelo francês HQE – Haute Qualité Environnementale –, critérios de avaliação de desempenho e certificação que são abrangentes, exigentes e coerentes, portanto permite soluções adequadas ao contexto do projeto. Ficou muito mais favorável e consistente partirmos desse modelo já desenvolvido e testado para adaptar ao Brasil, fazendo referência inclusive às regulamentações, legislações e normalizações técnicas brasileiras para estabelecer o Processo AQUA.A adaptação foi feita com ajuda dos professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP e por meio de cooperação técnica com os franceses: o CSTB – Centre Scientifique et Technique du Bâtiment – e sua filial Certivéa – para edifícios comerciais e de serviços e, o CERQUAL, do grupo QUALITEL, para edifícios e conjuntos habitacionais. Essa é a origem do AQUA.

Para mostrar algumas soluções ecológicas na área de contruções a Fundação Vanzolini teve a iniciativa de montar e expor uma casa sustentável. Professor, como foi esse trabalho?
Em 2009, ano da França no Brasil, firmamos uma parceria com a Missão Econômica Francesa em São Paulo, devido a própria origem francesa da Certificação AQUA e também pela grande presença de empresas francesas no Brasil. O que nos proporcionou a participação na FEICON – Feira Internacional da Indústria da Construção. Então para integrar a nossa equipe e montar a Casa AQUA convidamos a Inovatech que gerenciou a montagem, por ser uma empresa que atua também na linha de reformas sustentáveis, e contamos com a participação do arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb especializado em projetos baseados nos princípios ambientais.

A Vanzolini entrou com respaldo institucional assim como a Missão Econômica Francesa, contamos com o apoio de várias empresas, a maioria francesa, mas também algumas brasileiras, o que possibilitou que demonstrássemos a viabilidade de várias soluções de projetos que atendessem ao AQUA. Depois a Casa AQUAapareceu outra vez, numa versão próxima de um projeto mais popular, um pouco menor, na Ambiental Expo de 2010. E pode ser que ela apareça de novo, pois temos muitos interessados em patrocinar a montagem de uma Casa AQUA numa nova versão, afinal vamos sempre melhorando as versões.

Entre os processos iniciados e certificados a Fundação Vanzolini conta com 22 empreendimentos avaliados pelo critério AQUA, com 40 certificados emitidos nas diversas fases, e agora acabam de certificar, na fase programa, o 1˚ Parque Ecológico no Brasil.

Qual é a representatividade do Parque Ecológico Imigrantes, por ser o pioneiro dessa certificação, no país?
Bom para começar o Parque Ecológico Imigrantes é extremamente representativo devido a localização privilegiada. Primeiro porque está no meio da Mata Atlântica, contribuindo com a proteção dessa reserva ecológica que é uma das mais importantes do Brasil e, disseminando conhecimento ambiental através das visitas monitoradas e demais atividades educacionais previstas. Não resta muito da Mata Atlântica, mas de alguns anos para cá, particularmente no Estado de São Paulo ela parou de diminuir e até começou a aumentar um pouquinho por recuperação.

E segundo porque está ao lado de uma rodovia que liga a região metropolitana de São Paulo ao porto de Santos que é a Rodovia dos Imigrantes, muito movimentada pelo comércio – entrada e saída de bens e produtos –, além do turismo. Então muita gente passará em frente ao Parque, e é uma oportunidade interessante para que as pessoas vejam que é possível preservar a natureza e usá-la para fins sócio-ambientais, culturais e educativos, que é a proposta de integração, inclusão e de desenvolvimento adotada pelo Parque.

Outro fator importante é a incorporação no projeto do contexto do local e do programa de funcionamento do Parque Ecológico Imigrantes, com o melhor aproveitamento das características bioclimáticas, economia de recursos – incluindo água e energia –, minimização dos resíduos, preservação da fauna e flora, sem esquecer as condições ideais de conforto e saúde dos usuários, favorecendo o programa funcional e objetivos do Parque.

Apesar do alto investimento inicial de uma construção sustentável, acima da média, o custo operacional é muito reduzido trazendo um retorno econômico ao empreendimento ao longo dos anos. Em relação ao Parque Ecológico Imigrantes, de que forma e em quanto tempo haverá esse retorno significativo?
Na verdade é difícil você dizer que uma construção sustentável custa mais, porque o que seria uma construção não sustentável? Seria uma construção não lá muito boa. Então a implementação, em alguns casos, de maior investimento é quando se faz necessário, pelo projeto, acrescentar alguns equipamentos para promover justamente a economia de água e energia, como dispositivos para recuperar, armazenar e utilizar a água de chuva, aproveitar a luz solar e, em alguns casos os ventos – com equipamentos que gerem energia eólica. Então um projeto com tais sistemas requerem um investimento maior, mas que dá retorno nas economias.

Mas não são só eles que vão economizar a água e energia. O próprio projeto arquitetônico já vai economizar energia ao proporcionar boas condições de conforto térmico exigindo menos ar condicionado, e se a iluminação natural for amplamente utilizada. Quando os materiais são mais duráveis e de fácil manutenção possivelmente não precisarão de tanta água para conservação e limpeza. Por isso não é só usar a energia solar, lâmpadas de alta eficiência energética, dispositivos economizadores de água como torneiras, bacias, entre outros de baixo consumo, mas é também, e antes até de tudo isso o próprio projeto de arquitetura em si que vai proporcionar a melhor relação de custo de investimento inicial e custo operacional.

No caso do Parque Ecológico Imigrantes o projeto de arquitetura, ao nosso ver, responde perfeitamente bem o direcionamento estratégico sustentável. Certamente a análise econômica global do Parque, considerando o investimento inicial e os custos operacionais, resultará num balanço positivo.

Professor Martins, o momento certo para aliar o empreendimento ao processo de certificação AQUA é no começo da elaboração e desenvolvimento do projeto arquitetônico?
Sim, porque amplia as opções de soluções para resolver muitas questões na própria arquitetura, precisando menos investimento em equipamentos. De qualquer maneira, esses investimentos sempre dão retorno, pois oferecem uma melhor conservação dos materiais, uma maior durabilidade e facilidades de manutenção, fazendo com que o empreendimento precise de menos recursos durante a gestão. Então isso sempre vai resultar em economia, o detalhe exatamente de quanto depende de uma estimativa um pouco mais apurada que deverá ser feita, no caso do Parque, na próxima fase, de concepção até a conclusão dos projetos executivos, e comprovada depois na prática, quando o Parque estiver pronto em funcionamento.

Professor, quais são os pontos fortes do Parque Ecológico Imigrantes que foram detectados pela Certificação AQUA e que poderá servir de modelo para futuras construções sustentáveis?
Tivemos alguns pontos fortes verificados na auditoria de certificação – da fase Programa – do Parque Ecológico Imigrantes. Primeiro a estratégia ambiental global da Fundação Kunito Miyasaka como empreendedora, buscando o desenvolvimento cultural e social de modo inclusivo e com total integração com o meio-ambiente. Iniciativa decisiva para que o programa ambiental tivesse total integração com o programa de necessidades, ou seja, um programa harmonioso, realçando a alta qualidade ambiental do Parque em sintonia com a realização do empreendimento e o uso de forma a cumprir os objetivos estratégicos.

Outros fatores de grande relevância foram: a ênfase ao desempenho do projeto na inserção no entorno da Mata Atlântica junto à Rodovia dos Imigrantes; à gestão e economia de água e energia na operação do Parque Ecológico Imigrantes; à escolha integrada de materiais duráveis e de baixo impacto ambiental, inclusive durante as obras de implantação; à gestão dos resíduos de uso do Parque e ao conforto visual, privilegiando a iluminação natural e as vistas. Para tanto o projeto arquitetônico respondeu de maneira extremamente boa ao desafio.

Como o Sr. avalia a tendência e aplicabilidade da construção sustentável? No futuro essa certificação deixará de ser opcional como aconteceu, devido a exigência de mercado, em relação ao ISO voltado a gestão da qualidade com padronizações e normalizações criteriosas?
Sendo a construção civil responsável por parcela substancial do consumo de matérias primas, energia, água e pela geração de resíduos, além do conforto e saúde das pessoas que vivem ou trabalham nas edificações, a exigência de uma abordagem que resulte num desempenho de alta qualidade ambiental cresce no mercado na medida do avanço do conhecimento e da consciência da sociedade.

Espera-se que, com esse desenvolvimento, além dos clientes e investidores, órgãos públicos que contratam, desenvolvem e aprovam construções, como prefeituras, priorizem os empreendimentos certificados AQUA, não de modo obrigatório, mas como demonstração da qualidade do projeto.

Assim como bancos e seguradoras também deverão levar essa qualidade e preocupação ambiental em conta oferecendo melhores condições de negócios, como: a concessão de crédito, estabelecimento de prêmios e seguro com valores mais interessantes. Afinal esses empreendimentos sustentáveis oferecem melhor desempenho, durabilidade, conforto e saúde, gerando confiabilidade além de custos operacionais mais baixos.