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Quando o sol veio nascer no Brasil

Livro que registra encontro entre duas culturas e formação de uma nova identidade, a dos nisseis, será lançado hoje no MAM

Por: admin - 28 maio 2012

Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru estacionava no Porto de Santos, no litoral paulista, com os primeiros imigrantes japoneses. Os caminhos do Brasil e do Japão se encontraram para suas histórias nunca mais serem as mesmas. Diferentes tradições, que podiam parecer inconciliáveis à primeira vista, se integraram, formando nova e rica cultura. Para mostrar o encontro dessas culturas e o processo de formação de uma nova identidade, a dos nisseis, a Fundação Kunito Miyasaka e a editora Terceiro Nome lançam De Sol a Sol – O Japão Que Nasce No Brasil no Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Ibirapuera hoje, às 20 h, em comemoração aos 100 anos da imigração japonesa.

De Sol a Sol – O Japão Que Nasce No Brasil (R$ 58) é dividido em dois volumes. Os textos do primeiro volume levam o leitor a fazer uma viagem no tempo para dois destinos. Eles contam como era o Brasil que recebeu os primeiros japoneses emigrados da terra do sol nascente. Relata os motivos que estão por trás dessa vinda e as condições de vida que os imigrantes encontraram na nova pátria. A maioria das famílias buscaram trabalho no Norte do País – exploração da borracha – e no interior de São Paulo e Norte do Paraná – plantações de café.

O segundo destino é o Japão feudal, eminentemente agrícola, dominado pelos poderosos samurais do xogunato (sistema de governo predominante no Japão de 1192 a 1867, baseado na crescente autoridade do xogum, supremo líder militar) Tokugawa e o Japão que se submeteu a intensa modernização a partir de 1868, com a restauração do poder imperial na era Meiji. Entendido o contexto histórico, os últimos textos apresentam um Brasil cheio de imigrantes japoneses, que, ao chegarem aqui, imaginavam colher o ouro verde oferecido pelos cafezais antes de regressar à terra natal.

Dividido em três capítulos – Da Tradição à Integração; De Onde Eles Vieram; e A Mulher Nikkei no Brasil -, o primeiro volume, com 78 páginas, foi escrito por quatro autores: Jorge J. Okubaro, Katsunori Wakisaka, Koichi Mori e Barbara Inagaki. Okubaro é editorialista do Grupo Estado. Wakisaka, ex-presidente do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros de São Paulo, é organizador do importante Michaelis Dicionário Prático Português-Japonês. Mori é professor de Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Ministério da Educação e Ciência do Japão. E Inagaki é pós-graduanda no curso de língua e literatura japonesas da USP.

O volume 2 é um livro com 12 perfis de nisseis, filhos de pais japoneses nascidos na América, que hoje somam mais de 1 milhão de indivíduos em todo o Brasil. Essas breves biografias revelam histórias de vida e relações familiares que se confundem com a integração entre a cultura nacional e a nipônica. Além da ascensão social de cada indivíduo, é possível entender as transformações sofridas durante e após a 2ª Guerra Mundial e as mudanças na organização da comunidade nipo-brasileira. A escolha dos perfilados privilegiou diferentes profissões e ocupações. O volume 2 tem 168 páginas. O enfoque é na primeira geração nascida aqui.

Os perfis são da cientista política Helena Hirata, do empresário Jorge Nishimura, do escritor e jornalista Jorge J. Okubaro, do desembargador Kazuo Watanabe, do curador do Masp (Museu de Arte de São Paulo) Luís Sadaki Hossaka, da chef Mari Hirata, do criador de bicho-da-seda Masakazu Matsumura, do empresário, dono da Sakura, Renato Kenji Nakaya, do arquiteto Ruy Ohtake, do chairman da YKK do Brasil Seiji Ishikawa, do jornalista Takao Miyagui e de Wilma Motta, responsável pelo Instituto Sergio Motta, que foi seu companheiro de vida. O livro de perfis traz ensaio fotográfico de Hélcio Nagamine e desenhos de Rubens Matuck feitos com pincel e nanquim.

 Trecho
“Brasileiro? Com essa cara?” Documento passado em cartório e com firma reconhecida provando que o nascimento no Brasil não adiantava. “Japôn garantido, nô?” Quantos, entre os nascidos antes da 2ª Guerra e nos anos imediatamente após o conflito mundial, não terão ouvido essas coisas? Coisas de criança, naturalmente. Para os inocentes coleguinhas de escola ou vizinhos do sítio onde viviam, era tudo japonês. O domínio precário do idioma contribuía muito para isso. Mas pouco teria adiantado falar português com fluência, jogar bola, empinar pipas, comer arroz com feijão, mandioca frita, carne seca com jiló. A cara não ajudava. Nissei, o filho nascido no Brasil de imigrantes japonês, é isso, brasileiro com cara de japonês.

Serviço
De Sol a Sol – O Japão Que Nasce no Brasil. Ed. Terceiro Nome. 240 págs. R$ 58. MAM – Parque do Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º. Hoje, 20 h

 

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,quando-o-sol-veio-nascer-no-brasil,219137,0.htm